Gostava tanto de te chamar por aquele apelido. Não era original, muitos faziam uso dele, mas me era muito aconchegante. Isso não quer dizer que era fácil: para mim, era como se estivesse duelando com o sacrilégio de diminuir você, sempre tão imponente, em duas sílabas modestas: vogal-consoante, vogal-consoante. Elas eram soletradas numa voz baixinha, precedidas de um leve assobio que anunciava minha presença. Antes de chamar, queria sentir nos olhos a câmera lenta do seu pescoço virado no meio da rua, aquele olhar contemplativo avistando o ponto de longe e, por fim, o movimento suave do sorriso ao me ouvir chamar do lado de lá. Era essa a forma de demonstrar um amor tão guardado aqui dentro, quase eremita, que se manifestava ao mundo ao seu jeito, sem muitos padrões ou convenções. Tentava a todo custo ser único, original, autêntico, mesmo sem saber muito sê-lo. Por isso, o assobio para chamar a atenção. E o apelido guardado que, mesmo hoje longe, ecoa em certas noites de silêncio aqui no quarto.
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4 comentários:
Daniel,
Que bonito o texto. O apelido é de todos e no entanto no texto, continua sendo só teu.
Beijo,
Carol
é de uma delidadeza...
lembrei disso:
"- Então Charlie Brown ...o que é amor pra você?
- Em 1987 meu pai tinha um carro azul
- Mas o que isso tem a ver com amor?
- Bom, acontece que todos os dias ele dava carona pra uma moça. Ele saía do carro, abria a porta pra ela,quando ela entrava ele fechava a porta, dava a volta pelo carro e quando ele ia abrir a porta pra entrar, ela apertava a tranca. Ela ficava fazendo caretas e os dois morriam de rir.
...acho que isso é amor .."
(Charlie M. Schulz)
gosto dessa presença da poesia em cada cantinho...
bonita imagem, palavras como lar ... aconchegantes!
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