A cena ainda é do estacionamento. Nós dois dentro do carro benzendo com a tristeza nosso fim. Pegue o lenço, enxugue o rosto com a página virada. Não, por favor, não feche de vez o livro, ainda temos história pra contar. Fique mais um pouco aqui.
[...]
Sim, aquele dia ainda reverbera, embora tenha me esforçado em valorizar mais os dias felizes juntos do que apenas aquele em que você bateu a porta com a eventual força, pôs a mão na testa e saiu andando. Alô, você chegou bem em casa? Sabe que eu sempre me preocupo.
[...]
Ainda vejo você diminuindo no meu campo de visão, embora a amplitude do vazio fosse latente naquele momento. Não tínhamos escapatória (Quem ama sempre encontra saídas? Eu não as vi naquele instante, nem você talvez). Também não temos hoje escapatória -- a aliança já fora feita. Eu calculo há cerca de dois, três, cinco anos. Outros preferem jogar no ar e apontar os tempos imemoriais, aqueles cujo apelido hoje dão de "destino".
E aliança é coisa difícil de desfazer -- "Não se desama dando um mero tchau", lembra? Tantas palavras só para dizer que ainda sinto falta do seu cuidado. Por isso tenho protelado tanto o sono. Dormir me dói. O esforço de duelar com o lado esquerdo vazio da cama, agora frio por causa do inverno, é grande. Talvez daí se explique o cansaço no corpo toda vez que acordo. Não descanso enquanto não tenho você novamente. Por isso, por ora, sigo com o coração estacionado. Igual àquele nosso último dia. Acho que ainda estou à sua espera.
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