Era como uma plantinha de apartamento: sempre no mesmo canto, sempre com o mesmo sol, sem muitas evoluções na vida. Era raro quando um pé de vento vinha lhe contar alguma nova -- a janela vivia fechada para evitar a poeira. Sua única companheira diária era a água, mas ainda sim só lhe molhavam rapidamente a raiz. Mais nada. Queria tanto sentir um pouco de frescor pelo corpo, pobrezinha, mas só recebia a calmaria das águas em seus pés. E com tempo contado: coisa de três vezes por dia e olhe lá. Restava a pobre plantinha se reservar às mutações a ela impostas para ver se conseguia ter alguma movimentação nessa vida. Era sua sina: responder no corpo aquilo que a casa lhe transmitia. Papo de energia, como dizem os mais entendidos no assunto hoje. A plantinha alterava seu estado físico de acordo com o ambiente. Era uma espécie de termômetro natural: absorvia o clima de seu habitat. Ecologicamente correto para lhe impor em sua estrutura o incorreto. Daí se explica sua natureza de caule encurvado, com pouco verde predominando, sem nenhuma florzinha qualquer para contar história. Ela funcionava como o espelho da velha casa, embora não pudesse cumprir de fato sua verdadeira função no mundo: refratar a quem para ela olhasse a real identidade da aridez, aquela terra que carece de um pouco de chuva para seguir a vida. O chão continuava liso, sem rugas, nem demarcações. Tudo parecia intacto. Inclusive a plantinha em seu vaso.
27 junho, 2009
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