27 dezembro, 2007

Janela


“Do lado de lá, as casas tinham uma casa que variava com as horas do dia e também conforme a atitude as janelas”
[Cecília Meireles]


Minha mãe sempre deixa a janela fechada
Com medo de a chuva entrar de repente
No meu quarto, ao menos, eu escancaro
Espero ansiosamente uma surpresa me arrebatar

Pode ser um passarinho
Pode ser um pé-de-vento
Pode ser um amor
Pode ser um aguaceiro
Pode ser um folha seca

Pintar a casa já me sai mais caro
Alergia à tinta, à poeira e à mudança
Eu me saio melhor no caminho do padre
Dá pra ligar de quando em vez o piloto automático

Pro dia
Pra vida
Pros erros
Pra você
Pra casa

“A vida é um vago variado”
Mesmo quando se tem no quarto uma só janela
Com duas únicas soluções de mudança:
Aberta ou fechada para o mundo

Acho que está na hora de quebrar o vidro
E, por ora, não juntar os cacos estilhaçados
Deixa que o vento uma hora espalha



“Então eu forcejei por variar de mim, que eu estava no não-acontecido nos passados. O senhor me entende?”
[Guimarães Rosa]


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