01 abril, 2008

Espera

Foto da :: velha casa ::


“É como se o mundo estivesse a minha espera.
E eu vou ao encontro do que me espera”
[ainda em Clarice Lispector]



Meu coração engessado coça. Ele se acotovela aqui e ali, ainda na espera daquela sua batida habitual na porta. Ou talvez de um recadinho seu, escrito em qualquer cor mais escura sobre a superfície alva do músculo intacto, que não pôde se mexer durante sua ausência. Mas a pontada por trás do gesso que molda a berlinda desse santo amor tem reverberado com certa obstinação aqui dentro.

Não é uma batida muito intensa, é verdade. Ela tem um ritmo próprio de viver. Meio que de leve, eu diria. Acredito até que esse baticumbum meu de cada dia poderia ser mais forte, caso as circunstâncias nos fossem mais favoráveis, como o renovo no sangue que tinge o estandarte do amor, as novas pulsações no peito, os batuques mais sonoros e mais graves, as ondas sonoras do seu “Eu te amo”, sem me esquecer, claro, dos brônquios ofegantes que protegem o coração nas horas mais apropriadas.

[...]

Entre tantas expectativas, esperas e ansiedades para tudo completar seu ritmo cíclico e voltar ao marco zero da nossa caminhada, fica aqui a dúvida: um coração engessado, quando ganha alta, bate na mesma freqüência que antes? Ou, como questiona o popular, será que ele continuará o mesmo?



[Dedicado à menina Marina Mah (por que má?), que sempre aponta com delicadeza em seus comentários as esperas desta velha casa que vos fala]



10 comentários:

Marina Mah disse...

Daniel,
Essa sua espera é linda, mas dolorosa!
Cuidado para não deixar a vida passar com o coração engessado.

Sua segunda estrofe me soou tão ritmada, que lembrou-me uma música:

"Eu faço samba e amor há qualquer hora
De madrugada tem batucada
(...)
E você, faça de mim um instrumento de sua paz
E sabe do que mais?
Eu sou como um tambor que ressoa
Mas dentro dele vive a pessoa"

Muito obrigada pelo carinho.
Beijo

Filipe Garcia disse...

E aí Daniel.

Sinceramente? Acho que coração engessado não volta à mesma frequencia pela mesma pessoa ou pelo mesmo momento. Mas novos fatos, novos amores podem mudar tudo isso.


Abraços

Camilinha disse...

Eita, trem bonito, sô!!!

Cheguei aqui de jegue por causa da Entre Vistas acolá...

Será que o coração tem poder regenerativo? será?

beijos daqui...

Anônimo disse...

Eu sempre digo que, se ele ainda bate, TUDO pode acontecer.

E só a vida vai poder dar a melhor resposta pra você.

um beijo

Mimi disse...

o coração só melhora, Daniel!

Ou aumenta!

beijo, ó grande coração

FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Acho que o coração pode até bater na mesma freqüência de antes, mas ele, certamente, baterá mais cauteloso... O que nem sempre é bom. =(

Beijos, Daniel.

Renato Ziggy disse...

Apesar da pergunta não ser direcionada a mim, mas a alguém para quem vc escreve (suponho eu), vou responder, sim?

Creio que cada coração reage ao "estado de engessamento" de uma forma. O seu, ao que me parece, nem engessado ficou, apenas se machucou e recebeu uma tala. E no fundo parece esperar ansiosamente pra ficar bem logo e poder amar a mesma pessoa com um "baticumbum" do bom... Palavra engraçada essa, eu ri quando li. Rs!

Com outra pessoa, pode ser que seja diferente. Abração!

EEEEEEEEEEEEEE! ALELÓIAS! EU VOLTEI, EU COMENTEI... E ELE FEZ A BARBAAAAA! AHUAHAUAHUAHUAHUA!

Bem, é isso. Tchau, (Não mais, mas com alma de)Barbudão!

Anonimo disse...

Muito belo poema, gostei dessa batida. Acho que cada história tem seu ritmo, peso de batida diferente, mas sempre tem algumas que marcam mais, ficam impressas no contratempo do coração.

Abraços.