Sabe, seu moço, o estofo que vai revestir aquele assentinho antigo ali, velho mesmo? Então, faz três semanas que não está pronto. Um senhorzinho que mora naquela casinhola, lá em cima do matagal, sabe quem é? Então, noite vai, noite vem, ele toca sempre no assunto, falando sozinho de canto a canto da varando: “Cadê a minha cadeira? Eu quero me sentar! Quero descansar!”. Foi o que contaram na esquina.
Não se fala em outra coisa: onde está o raio da morada que aquele corpo já encurvado procura para suas horinhas de descanso? É essa cadeirinha aqui? Ave Maria, homem de Deus, corra logo com esse serviço! Virgem Nossa Senhora, deixa eu pôr a mão na boca pra dizer isso, tenho que falar baixo: o danado do velho tem fama solta de rogar mandinga por aí aos atrevidos que não seguem o ritmo dos seus quereres. E é coisa braba, meu senhor, coisa braba mesmo, difícil de se endireitar com qualquer reza frouxa. Eu me pélo todinho só de pensar nas maleitas dele que contam por aí na vizinhança.
Dizem que ele é doente, coitado, que está mal das pernas mesmo. Mas ainda tá vivo e gritando dentro de casa. Vá, homem de Deus, trate logo de se adiantar! Endireita logo esse assento velho e se livra disso. Oxalá nada te aconteça demais. E que esse senhorzinho fique descansando na sua paz.
Não se fala em outra coisa: onde está o raio da morada que aquele corpo já encurvado procura para suas horinhas de descanso? É essa cadeirinha aqui? Ave Maria, homem de Deus, corra logo com esse serviço! Virgem Nossa Senhora, deixa eu pôr a mão na boca pra dizer isso, tenho que falar baixo: o danado do velho tem fama solta de rogar mandinga por aí aos atrevidos que não seguem o ritmo dos seus quereres. E é coisa braba, meu senhor, coisa braba mesmo, difícil de se endireitar com qualquer reza frouxa. Eu me pélo todinho só de pensar nas maleitas dele que contam por aí na vizinhança.
Dizem que ele é doente, coitado, que está mal das pernas mesmo. Mas ainda tá vivo e gritando dentro de casa. Vá, homem de Deus, trate logo de se adiantar! Endireita logo esse assento velho e se livra disso. Oxalá nada te aconteça demais. E que esse senhorzinho fique descansando na sua paz.
“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”
[Guimarães Rosa]
[Guimarães Rosa]
13 comentários:
o maior presente: paz para descansar a loucura e a velhice
bjs
Tudo que precisamos é ter um lugarzinho pra descansar... E quanto à Legião... é o mesmo comigo, ouvi à exaustão!
''no sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se vê''
pô bicho... que bonito
E assim que devíamos ser, ter paz com pouco. Ou será comodismo?
Gostei do blog!
Até!
Tirei o chapéu para a riqueza dos textos e das palavras tão bem colocadas, dando de fato certa teatralidade ao texto e deixam claro ali umas noções de dramaturgia. Muito bom, Daniel! Acho que foi o texto mais rico seu que já li, no tocante aos signos, linguagem etc... Amplexo!
um dia passaste no meu blogger e elogiaste, faz tempo, nem sei se respondi...hj li quase tudo que por ca achei..
sorte boa a ti...
abraços
ah, ia esquecendo de partir da casa com mais uma de guimarães rosa, aminha preferida...talvez ja ate conheças...
"FELICIDADE SE ACHA EM HORINAHS DE DESCUIDO"
NOSSA ..descansar um dia todos nos iremos...que texto lindo parabéns garoto ..seu blo tudo de bom!!!
Seu texto é lindo!
Palavras bem colocadas e com sentimento.
Voltarei depois mais vezes para ver o que anda escrevendo!
Um bjo
Esse é o meu garoto!
Acordou!
bjs, f
Esse é o meu garoto!
Acordou!
bjs, f
Pax
Tudo o que almejo...
beijo, Daniel-que-me-tira-as-palavras.
(sabe que eu venho aqui, leio,leio e fico me achando boba pra comentar.)
Oi Daniel.
Texto gostoso e bem-humorado! Me lembrou passagens do Grande Sertão, daquele monólogo interminável de Riobaldo. Percebe-se mesmo um pouco do estilo do Guimarães Rosa nas suas veias.
Um abraço!
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