23 junho, 2009

Insone

Aos que dizem que sou muito fechado, de poucas palavras e de muitas entrelinhas, tenho uma confissão aqui a fazer: senhores, venho me alternando nessas últimas semanas entre a alegria e a tristeza. Tudo no intervalo do dia, o que torna ainda mais cansativo o prosseguir adiante. É tudo como uma parábola, dessas que aprendemos no colégio. Geralmente a euforia cresce ao longo do dia. Assume um auge sublimado, pontilhado no gráfico (porque não o percebo) e cai vertiginosamente no fim do dia. Ao ponto de estar aqui agora, a poucos minutos para uma da madrugada, insone, dançando no escuro do quarto com a companhia de músicas aleatórias, sem coerência lógico-afetiva entre elas. Um amigo, poucas horas atrás, me perguntou ao telefone: "Você está bem?". Respondi que sim, mas é mentira. Minto para mim mesmo -- e, por tabela, para os outros. Tem me sido uma constante ultimamente. Tanto que finjo que durmo. O corpo pede a cama, o cansaço dá sinais latentes, mas não consigo dormir de fato. Medo do que virá pela frente, talvez? Não sei, mas alguma batida aqui dentro veio me responder que sim, há uma certa tensão. Será que é com o amanhã? Ou com o ontem que ainda guardo no bolso da camisa, papel dobrado que tenho comigo por pura mania de não jogar nada fora, memórias amontoadas na desordem do armário embutido? Não sei responder. Tenho me achado um tanto burro ultimamente. Embruteci. Forjei o cerrado da testa. Talvez por isso o sono não se deixa aparecer. Dormir me deixa mais sensível ao mundo. Mas esses dias têm sido assim: de pernas exauridas e de hora atrasada para chegar ao trabalho. Não há tempo para lembrar dos sonhos. Por isso talvez ainda esteja acordado: em vez de dormir e deixá-los vir à tona, fico à espera aqui no quarto, só para ver se algum deles vai bater à porta. Acordado, ainda mantenho uma nesga de sensibilidade de que preciso para ver um pouco mais de graça, cor e leveza nas pessoas. Por ora, ainda sigo seco e meloso.

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