08 julho, 2009

Feliz

Hoje foi dia de análise. Descobrimos juntos -- eu e a analista -- que eu estou infeliz. Ela me alertou: "Vou lhe fazer uma revelação séria. Qualquer coisa, me liga". Não vou precisar, Ângela. Está tudo bem. Foi, de certa forma, aliviante constatar isso. Precisava dar esse grito, que acabou saindo por você. Não tem problema: certas horas, você sou eu mesmo, não é -- ou para quem mais eu contaria minhas intimidades? Foi um alívio. Estava acostumado a ser infeliz. Difícil era encarar a ideia contrária: de ser feliz, mesmo querendo muito. Descobri que provocava o desejo dessa felicidade, mas me era clandestina. Eu renegava a troco, talvez, da comodidade de continuar à deriva na lagoa. A água já estava turva, e eu nem me dei conta. Os olhos cegam para a mesmice do tempo. Precisava de um sacolejo. E você, cara Ângela, me ajudou. Por isso saí bem hoje da análise, mesmo constatando a infelicidade que em mim ainda fixou endereço. Estou surpreendentemente feliz. E, claro, disposto a dar a volta por cima, ainda que seja difícil a ideia de encarar o que me é novo. Sim, meus amigos: ser feliz é privilégio para poucos. Para mim, ainda é sinônimo de novidade. Mas daqui a pouco vira notícia velha, podem apostar.

Um comentário:

Clarice disse...

Daniel, quando conseguimos encarar a tristeza como simplesmente o outra lado da alegria, a sombra como o outo lado da luz, o amor como o outro lado do ódio, apenas o lado oposto da mesma coisa ... nos sentimos livres para sentir... nada é definitivo, apenas e tão somente o outro lado. O importante é deixar a tristeza vir e ir, não deixe ela fazer morada.
Beijos da janela,