08 dezembro, 2007

Desopilar



“E uma flor exala a medo
Seu perfume como segredo
Na mais profunda solidão”
[Charles Baudelaire, “O azar”]



Nos livros eu busco uma palavra qualquer. É o momento de encontrar uma certa placidez, que costuma sair de cena nas horas mais improváveis. Sigo me desdobrando, esbaforido por aí no ramerrame cotidiano, e demanda certo tempo até eu conseguir me recompor de todo. Isso porque tenho consciência do meu ritmo parabólico de ser, que vibra no cume do vértice antes de perder força ladeira abaixo. E cada um sabe como cair no tempo que lhe for conveniente.

Sei que me esgueiro entre as minhas aflições, angústias e loucuras, fruto de desesperos esparsos e intermitentes, que eu tento comedir. É que certas dores ainda me encabulam. Só a luz noturna as conhece. Mas este medo (se é que uma palavra possa resumir esses muitos estados de espírito) eu posso revelar: ele é provocado por um sentimento novo que vem me visitar sem sobreaviso da portaria do prédio. Se eu não atendo logo, talvez esse meu novo sentir se desmanche na liquidez das minhas incertezas.

Por isso, é mais prudente abrir o portão e deixá-lo entrar. Só que antes eu peço a gentileza de me esperar por dez minutos. É só o tempo para que eu consiga me desopilar antes de abrir-lhe as portas desta velha casa que vos fala. Ainda preciso enxugar o riso molhado do meu choro invisível.

2 comentários:

J.Machado disse...

Mais um, brilhante!
Montanha russa de emoções, angústias e conflitos internos.
Por que é sempre assim?
Obrigado pelo comentário.
É verdade, até hoje nada foi forte o suficiente para retirar o "se" de minha vida.
Abraços!

Carol Timm disse...

Daniel,

Cada um de nós um oceano de emoções e momentos, muitas vezes conflitantes...

"Quem já passou por essa vida e não sofreu?"

Beijos,
Carol