30 dezembro, 2007

Oferta


Quando jogo flores ao mar, no fundo espero que elas, de alguma forma, retornem para mim na mesma medida em que foram presenteadas. O termo mais apropriado neste caso não é retorno – é retribuição, que pode vir numa nova forma de ofertar a minha dedicação e devoção ao amor sagrado.

Um dia antes, escolho as flores mais bonitas, aquelas que eu sei que lhe serão de bom grado. Não meço esforços para encontrar as cores ideais. As mais vistosas só são encontradas na madrugada, horário em que meu coração se transforma num relicário para preparar as deferências ao amor.

Na praia, minha adoração reverbera a cada flor que é ao mar ofertada. E algo instável, difícil de denominar, também pulsa forte aqui dentro. As ondas chegam, levam com elas os presentes ofertados. Rebate-os na areia e os toma de volta, de acordo com o movimento de cada onda que se forma nessa primeira hora da manhã.

A dedicação que eu tenho como oferenda deveria ser igual a essas ondas do mar, que dançam num ir e vir eterno, sincopado e inconstante. Tolo eu em só acreditar no raso que eu tateio na praia e desconsiderar a força do vento ou da tempestade, que rompe com o curso natural do mar e muda o destino das flores milhas depois.

Enquanto as flores a mim não retornam, sigo aguardando descalço na areia. Os olhos fitados no horizonte estão à espera de uma bruma qualquer, capaz de confortar minha ansiedade em ter sempre o retorno imediato, a retribuição agradecida. Faço votos de que a onda seja capaz também de consolar meu combalido amor próprio, que usa as águas do mar para verter lágrimas de uma criança ainda à espera do colo materno.

Que essa mesma onda seja capaz ainda de levar com ela minha fúria contida. E que, por fim, ela me dê o cansaço necessário para dormir e acordar minimamente renovado, depois de tantas horas em claro sob o altar da devoção. Pois amanhã já está marcado no último quadrinho do calendário: é mais um dia de ir à floricultura de madrugada. Mais um dia à procura de novas rosas para você saudar a chegada do novo ano.



Confesso entretanto que sou incapaz
De jogar fora assim as minhas lágrimas
Prefiro dormir sozinho no quarto
Talvez eu esteja bem melhor ao acordar
["Apenas timidez", Kid Abelha]

3 comentários:

Carol Timm disse...

Daniel,

Faz muito tempo que levei flores ao mar... no fundo acho que tenho pena do destino dessas flores...

Mas quando fiz isso, devo confessar, achava que se a flor voltasse, o mar não tinha aceito... e não ficava tempo o bastante para ver a flor devolvida.

Como a poesia, a interpretação da oferenda ao mar, é de quem leva a flor até ele, ou do sonho de quem o escuta com o coração.

Nossas oferendas são aceitas, porque as fazemos com o coração.

neste ano, jogue uma flor por mim... vou torcer para que o mar fique com ela "para sempre"...

E, quando fizer minha carta de agradecimentos de 2008, agradecerei antecipadamente por esta flro aceita pelo mar...

Beijos e um feliz 2008 para nós, cheio de flores e poesias!

Carol

Anônimo disse...

Mart'nália - Nas águas De Amaralina
Martinho Da Vila/nelson Ruffino

Fui pra's águas do mar de Amaralina
Com mágoas de mais em cima
Aos meus sonhos juntei perfume e flores,
desejos,temores

Prometi novamente voltar pra's águas
Se a força do mar me vingasse as mágoas
Esperei,me curvei
E na terceira onda me entreguei pra Jana
Ína,meu amor!
Vaidosa e brejeira,Mãe menina

Janaína ê ê Janaína
Devolveu perfume e flor, que sina!

Mas um velho me falou
Que Jana jamais bancou
Vinganças no desamor e então,
voltei ao mesmo lugar,
com peito aberto sem dor
Aí o meu coração sarou

Ína,meu amor!
Vaidosa e brejeira,Mãe menina

Anônimo disse...

Quem foi que disse que eu não tenho blog? hahahahha Abraçuuu, tabacudo..e adivinha que fez o comentario anonimo?? huahua..Saudades da sua presença real e da virtual tb...chato!