31 janeiro, 2008
Carta de amor
Quando rascunho num bloquinho qualquer minha rotineira confusão de pensamentos, lembro sempre os versos de Fernando Pessoa: “Todas as cartas de amor são ridículas”. Pelo visto, devem ser mesmo. Cada palavra, cada verbo, cada ponto meu colocado no papel é pensado com precisão, como um ourives burilando a jóia mais rara com a devida precisão cirúrgica. Tudo para refratar esse sentimento do meu para seu peito, se possível na mesma intensidade do bate-volta, mesmo com o receio confesso de que este retorno se perca no meio do vácuo que muitos aí fora insistem em chamar de insensibilidade.
A escolha das pedrarias que enfeitam esse papiro do amor vai ao encontro do seu apreço, pois agradar o mundo sempre foi a sina daqueles que viram na infância o canto da parede como o lugar oficial a ser ocupado neste mundo. Agradar com uma carta, desenhando a letra nas linhas imaginarias de um caderno de caligrafia, regozija a alma, acalenta o espírito, mas não o coração. Esse fica à sua espera, ao seu retorno, ao seu cuidado em preservar aquele escritinho simples como prova de que é possível o sentimento ganhar ainda mais ares de nobreza por meio de algumas poucas linhas.
Mais uma vez, concordemos com Fernando Pessoa. Todas as cartas de amor são mesmo ridículas. E quem as escreve também. Esse palavrório todo apresentado aqui e nos outros papéis guardados no meu caderno poderia ser muito bem enxugado em três parcos tempos de oratória: “Eu te amo”. Como já ensinava Drummond, escrever bem é cortar palavras.
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2 comentários:
Fala grande Daniel, td bem!!!
Acho que o amor (as cartas) não é ridículo aos olhos de quem vê, mesmo que seja aos seus.
Mas não precisa justificar, fica claro pro entendimento alheio.
Esqueça as firulas e as convenções sociais. Ame apenas.
Abração!
Daniel,
Concordo com o Juca: "Ame apenas..." e se escrever cartas de amor é uma forma de amar, de demonstrar amor, quem se importa que nos pensem rídiculos?
[Ridículo seria não ter vontade ou escrito alguma carta de amor...] - parafraseando Pessoa ainda...
Beijos,
Carol
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