21 abril, 2008

Arrefecer



Minha explosão acontece quando menos eu espero ou posso controlar. Vou guardando aqui e ali, dia sim e dia também, até encontrar neste labirinto aqui que vos fala uma saída qualquer para despejar um tanto da ira contida, cultivada e guardada por tempos. Os mais incautos podem até me alertar que esse tipo de raiva só faz mal, pererê-pão-doce e etcétera e tal. Mas eu peço licença, me desculpo e defendo: acho importante, sim, o ranger dos dentes por, pelo menos, cinco minutos. Até deixar o sol raiar no dia seguinte.

Eu espero até um equinócio, solstício ou a translação se for necessário, mas cadê que essa bola de fogo entranhada aqui dentro sai? Quando mesmo é que ela vai ser expulsa ou expelida, cuspida mundo afora? Repito: quando menos eu espero, numa situação tosca e banal do dia-a-dia, em que faço valer a herança calabresa da família, empino o nariz e estufo o peito para engrossar a voz e, enfim, trovejar meu palavrório por aí.

Forma de defesa? Pode até ser. Coisas do signo? Concordo em tese. Santos que não batem? Acho possível também. Mas eu confesso que gostaria de canalizar parte da ira, já devidamente filtrada e processada pelo bom senso, na hora exata em que ela é animada aqui dentro, a quem é de dever e de direito ouvir.

Que bom que, mesmo com o peito em que pulsa no calor às vezes ardido do coração, você entra no carro e canta seu ritmo. Isso me silencia e me faz sorrir. Me faz ouvir a expiração. Com o perdão do trocadilho, você é um tremendo balde de água fria nessa incandescência que bate aqui dentro. E eu adoro me chafurdar nas águas arrefecedoras que você me benze.

[...]


Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela, então eu me vi

Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar

Água- marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Hoje você está
Onde você está
As coisas são mais lindas
Por que você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas

[“As coisas tão mais lindas”, na voz de Cássia Eller. Uma das faixas que tocam no carro]



7 comentários:

Marina Mah disse...

Querido, sobre o seu texto, como me identifiquei...rs! Guardar as coisas e explodir como uma bomba atômica acionada por um mosquito que pousou no lugar errado... bem am cima do acionador...
Hoje, tenho aprendido a não deixar passar... tento resolver tudo na hora... apesar da minha enorme dificuldade de falar aquilo que sinto (talvez por isso eu sublime, escrevendo).
Mas tem gente que tem a capacidade e o dom de desarmar essa bomba, né?! Ah, essa pessoa...!

Beijos ;)

Anônimo disse...

Há algum tempo atrás, escrevi um texto que começava assim.
Achei perfeito.
Beijão.

8)

FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renato Ziggy disse...

Prefiro as bolas de fogo às bolas de neve. Se de quebra vem o tal do "domínio próprio", melhor ainda. Daê viro um X-MAN completo, que sabe se defender sem ofender... Bjons!

Tudo ou nada ... disse...

Acho q seu eu explodir de tudo q guardo sou capaz de levar metade do universo a se transformar numa super nova rs.

Juliana Almirante disse...

Que compasso interessante...

Não sei porque passei tanto tempo sem vir aqui.
Beijo

Cris Collyer disse...

as vezes, como é bom explodir...