12 abril, 2008

Mitos


No candomblé, a pessoa morre e nasce para viver uma nova vida, agora caminhando ao lado das entidades espirituais. Para tanto, é necessário “entregar” a cabeça, de forma que ali passe a ser agora a morada do santo protetor, num rito transformador de entrega de sangue, resignação, morte e renascimento.

[...]

Quando me dei conta, eu já estava todinho entregue a você. Feitiço? Não sei. Talvez eu confesse que sempre quis um dia provar do seu mel, para ver se ele era mais doce do que o cheiro que se exalava no salão quando do nosso encontro inicial. A cabeça eu não preciso nem dizer: ficou entorpecida. Nada entrava ou saía à mente desde nosso primeiro olho-no-olho.

Tudo ali começou meio como samba de breque e carnaval. Isso, claro, até a porta do quarto se fechar, porque depois éramos apenas dois corações batendo como atabaques, louvando em batidas fortes o amor como uma das mais divinas criações. Éramos ao mesmo tempo lama, suor, vento, água e fogo, tudo misturado à nossa própria alquimia. Corríamos e congelávamos juntos, contemplando a excelência divina que era fundir dois corpos num só.

Desde então, passei a me vestir mais de branco, para celebrar com todas as cores a alegria de ter o peito renascido ao seu lado. Mesmo diante de nuvens e céu cinzento, sei que a tempestade tem seu fundamento e sua razão de ser. E que, como os próprios mitos contam, depois de chafurdados pela chuva de lágrimas que nos benzeu depois de toda aquela conversa, tenho fé de que encontraremos juntos, de mãos dadas, um arco-íris reluzente à nossa espera.




4 comentários:

Proibida disse...

Oi. Estive no Entre Vistas e fiquei encantada com a sua entrevista. Resolvi então "dar uma espiada" em seu blog e confesso que adorei. Não se acanhe com a visita. "Sinta-se em casa!" Rs

Permita-me linkar seu blog para poder voltar mais vezes sempre que procurar boa leitura. Desde já agradeço-te.

FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
william gomes disse...

Nunca tinho visto uma metáfora romântica sobre os panos da religião.

Parabéns pelo post!!!

Vou ver os outros cômodos sem incômodos.

Unknown disse...

Acredito que as vezes temos que ir para o mesmo lugar, e com certeza ter um companheiro de viagem na estrada, torna o caminho mais aprazivel. E o arco-iris fica mais bonito se podemos aponta-lo para o outro.