20 maio, 2008

Três sensações, um coração



Gostaria muito de conseguir, enfim, expressar as confusões em que minha mente se envereda sem aviso prévio, carregando com ela toda sorte de medos, emoções e sensações difíceis de serem distinguidas. Não tenho mais você tão perto como antes, quando só nossos olhares nos bastavam para traduzir certos sentimentos inoculados pelo tempo, mas que afloraram em nós numa comunhão total de felicidade. Pretensioso eu, que acreditei numa nova velha casa a dois, só para que nós dois decifrássemos juntos qual é a forma mais plena que o amor escolhe se manifestar. E eram tantas...


[...]


Meu amor hoje veste uma máscara quando te visita, mas que esconde no disfarce a face de um medo antecipado. Hoje não tenho mais a cara limpa como antes. Como diz aquele ditado: “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Involuntariamente, tento me precaver das possíveis dores que o novo me apresenta, sentado de lado num banquinho à espera de qualquer surpresa a surgir e pronto para a qualquer momento agir e tentar resolver as intempéries. Pena não alcançar justamente a sua, depois de tantos esforços em reverter tudo isso. E os meus olhos, mesmo camuflados, não encobrem essa frustração. É o fantasma cantando a ária de sua própria ópera, num palco de cortinas fechadas.


[...]


Eu prefiro seguir refém do seu silêncio dentro do carro, em movimento, ouvindo músicas no afã de decifrar essas trilhas por mim enraizadas num estado de ansiedade. Como aquela que você me apresentou no primeiro encontro. Eu confesso que só lembrava a voz, não o que se cantava no rádio. É que, naquele dia, guardei meus olhos só pra você. Eu era e ainda sou seu, mesmo que hoje sinta a dor por não poder tatuar isso com abraços e beijos a qualquer hora do dia. Tempos depois, parado num sinal, uma frase daquela música fala por toda essa minha confusão: “Deu meu coração de falar esperanto / Na esperança de ser compreendido”. Não precisei dizer muita coisa naquele momento. Também não quis ouvir mais nada, nem as buzinas me avisando de que era preciso prosseguir no meu caminho.




5 comentários:

:: Daniel :: disse...

Amigos, a voz da música em questão é de um cantor brasiliense chamado Rubi. Recomendo a todos.

FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
leila saads disse...

Lindo texto e faço minha as palavras da Fávia: a vida às vezes surpreende.
Quando alguma coisa dói na gente, parece que não vai passar, parece que é eterna, mas passa.

Beijos!

Anônimo disse...

Nem sei ao certo como achei este blog. Nem sei ao certo como estou aqui, neste exato momento, escrevendo este humilde comentário. Aliás: nada é tão certo.
Sei, porém, não muito ao certo, mas com muita sensibilidade, que o dono dessa Velha Casa escreve muito bem, e muito bom. Tenho simpatia por coisas velhas, como esta casa. Gosto do ambiente. Vou ficar por aqui, pode ser?
O dia em que o senhor (a) quiser se sentar em uma também velha poltrona, terei o maior prazer de recebe-lo em meu singelo blog A Poltrona: www.apoltrona.blogspot.com
Um forte abraço.

[P] disse...

"Eu confesso que só lembrava a voz, não o que se cantava no rádio. É que, naquele dia, guardei meus olhos só pra você."

LINDO isso, Daniel.

O não saber expressar certas coisas é o de menos quando agimos, quando lutamos pelo que queremos. As atitudes acabam falando por si mesmas. Ainda que consideremos "pretensão" o fato de acharmos que vamos resolver os problemas que nos chateiam, o que importa é lutarmos pelo que acreditamos.

"Meu amor hoje veste uma máscara quando te visita, mas que esconde no disfarce a face de um medo antecipado". Isto me pareceu triste. Mas, pelo menos, você tentou...

Precisando, sabe que pode contar comigo, menino.

Beijo pro'cê.

ps: permito, doravante [e, portanto, nada de pedir licença], que você sinta-se à vontade para complementar quantas vezes quiser. tuas palavras na caixa de comentários daquele meu texto me arrancaram um sorriso e umedeceram meus olhos.

Você é um menino de ouro. De verdade.