20 setembro, 2008

De / Para




Prezada Clarice,

Nunca tive sentimento de vingança com a tristeza inoculada no peito. Deduzo suas origens, mas ainda não aponto com veemência os autores da obra. A não ser quando me encontro com o espelho. Imagem nítida de um único reflexo retorcido pela mais ordinária dúvida do ser humano: “Por quê?”.

A bem da verdade, eu nunca me senti, de fato, vestido com as afirmativas do mundo. A certeza da vida me desnuda. Prefiro me calçar com os questionamentos que costuram minha história. Assim, em silêncio, vou me impondo perante os inimigos, perante os incrédulos da minha vitória e, quem sabe, até perante outras coisas do mundo que ainda quero tanto aprender.

Estou num momento de poucas palavras, cara amiga. Mas espero de coração que aceite esse meu breve desabafo como um regalo daquele que tenta, assim como fez a senhora, compreender um pouco dessa nossa vida.

Com respeito,
Daniel

3 comentários:

Dauri Batisti disse...

Sim, Daniel, em muitos momentos, o silêncio nos faz suas exigências. O seu "breve desabafo" é singelo e terno.
Um abraço.

Dois Rios disse...

Daniel,

Há momentos de calar. É quando os sentimentos não encontram palavras para vazar.

"O que sinto não é traduzível.
Eu me expresso melhor pelo silêncio."
Clarice Lispector

Meu beijo,
Inês

[P] disse...

Eu adoro estes seus momentos direcionados a Clarice. E espero que você acabe conseguindo compreender um pouco que seja da vida, Daniel.

Foi ver a exposição dela no CCBB? Você, como fã, TEM que ver, se é que já não viu. Eu fui, junto com a pessoa mais indicada pra me acompanhar quando o assunto é a Lispector, e foi maravilhoso poder mergulhar no mundo dela.

Beijo.

ps: o endereço do blog novo já está devidamente atualizado no meu perfil :)