16 abril, 2009

Cartesiano




Meus sentimentos são muito cartesianos.
Ou talvez a forma como eu dou sentido a eles.
Eu raciocino, penso, (des)configuro, desconstruo.
Uma forma de mini/maximizar aquilo que me ainda é turvo, opaco, sem transparência.

Eu, sinceramente, me pergunto como tudo isso despertou.
[Fala completamente pretenciosa, mas entenda-a mais pelo lado da dúvida]
Pergunto, sim, porque isso nunca aconteceu comigo.
Por isso, a dúvida. E, confesso, às vezes a não compreensão também.
Será que nunca me apaixonei?
Tenho a impressão de que sim.
Mas sou muito controlado. Ou melhor: cartesiano, linear.
Observo, vejo onde piso, antes de me entregar de todo.

[Será que eu já me entreguei um dia na vida?]

Acho que não. Minha desconfiança é minha arma. Meu punhal também.
Guardo-a nas costas. Espécie de São Jorge temendo o ataque do dragão.
Às vezes, eu mesmo me apunhalo -- sem querer ou não.
Mas prefiro (sádico) eu mesmo me machucar a ser ceifado por outra pessoa.
Sou de luta, sou de briga. Mas, antes de tudo e de todos, comigo mesmo.

Talvez isso não tenha me permitido experimentar o prazer de fechar os olhos e se doar.
Dar, entregar, como você disse, conjugar todos esses verbos.
Na voz passiva, não mais em ativa. Deixar rolar, ver o que vai acontecer.
A água lavar, a vida me levar -- sem se preocupar para onde.

Ainda não abri a catraca. Antes pago meu pedágio diário.
Sim, eu pago. Só eu sei do trânsito que corre dentro de mim.
Penitência do medo: será que vale a pena mesmo? Será que vou me machucar (de novo)?

[Por isso, antes de me pensarem em me machucar, eu já entro com a ferida na história]

Enfim, palavras soltas, mas sem pretensão de resposta.
Não sei o que responder, nem penso em determinar nada.
Como eu aprendi com meu avô, na simplicidade de suas palavras
[que podem parecer rudes]:
“Cada um sabe o que faz com aquilo que tem”.

Se eu sei o que estou fazendo? Nunca.
Talvez eu esteja agindo no automático.
Se eu sei o aquilo que tenho? Mais dúvida.
Talvez eu tenha inscrito essa minha regra na minha tábula rasa em tempos imemoriais.
Talvez sejam aquelas reações sem pensar, ou sem saber por que agimos assim.

[...]

Eu simplesmente o faço.
E assim vou seguindo a vida.


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