[Sempre fiz minhas adaptações exclusivas de certas músicas. Nada proposital, é verdade. Todas fruto de uma audição precipitada, ou deficitária ou ambas. É o caso de "Roda viva", do Chico -- "Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu e não vê". Com a licença do Chico, vou dar prosseguimento ao verso inventado]
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Tem dias que a gente se sente, como quem partiu e não vê. Eu não vi. Apenas sinto que partiu. É algo aqui dentro ainda difícil de definir. O olhar nessas horas se torna sintomático: perpassa um vazio sem o afã de encontrar qualquer placa indicando onde fica o retorno para voltar atrás e sair dessa maré baixa assoladora, ressaca de um mar hoje com muita água, mas pouco sal.
A fala, poucos reconhecem: torna-se baixa, ainda acanhada diante da chegada desse meu estado de espírito, um velho conhecido pelas bandas da velha casa. Entre uma batida e outra, o coração se trinca. Forte demais até. Talvez esquecera aquele compasso ritmado de antes, quando tinha em quem se espelhar para fazer a cada dia uma música nova com você.
Hoje esse mesmo coração bombeia o sangue para não deixá-lo correr pelo corpo nem frio demais, nem quente demais no corpo. Prefere priorizar outras áreas sublimadas desde o último baque, meses atrás, estimulando a todo o custo o sentido perdido das coisas. Prefere não deixar nada mais morrer aqui dentro.
A fala, poucos reconhecem: torna-se baixa, ainda acanhada diante da chegada desse meu estado de espírito, um velho conhecido pelas bandas da velha casa. Entre uma batida e outra, o coração se trinca. Forte demais até. Talvez esquecera aquele compasso ritmado de antes, quando tinha em quem se espelhar para fazer a cada dia uma música nova com você.
Hoje esse mesmo coração bombeia o sangue para não deixá-lo correr pelo corpo nem frio demais, nem quente demais no corpo. Prefere priorizar outras áreas sublimadas desde o último baque, meses atrás, estimulando a todo o custo o sentido perdido das coisas. Prefere não deixar nada mais morrer aqui dentro.
O pobre desse coração olha sentado em seu trono instalado no peito o mundo de lá, o de fora, mas agora protegido por vidros. Estufa? Talvez. Casa de vidro? Talvez também. A única certeza por enquanto é: não quer se machucar mais. Por isso, vive hoje fechado em seu aquário sem água, sem alga, sem peixe, vestindo apenas uma couraça que ainda não o defende totalmente da transparência opaca de certa gente aí fora.
Aí não tem como dar conta mesmo. Principalmente de lavrar um motivo legítimo para a baixa repercutida em quem o carrega na vitrine instalada em seu próprio peito. Vende-se? Aluga-se? Fechado para balanço? Ainda não são essas as informações dadas pela placa na porta. Prefiro manter, ainda que a marteladas diárias, o recado de "Aberto", mesmo cansado de ver pouca movimentação interna. Sinais da tão propalada crise, talvez. Melhor pensar assim.
Aí não tem como dar conta mesmo. Principalmente de lavrar um motivo legítimo para a baixa repercutida em quem o carrega na vitrine instalada em seu próprio peito. Vende-se? Aluga-se? Fechado para balanço? Ainda não são essas as informações dadas pela placa na porta. Prefiro manter, ainda que a marteladas diárias, o recado de "Aberto", mesmo cansado de ver pouca movimentação interna. Sinais da tão propalada crise, talvez. Melhor pensar assim.
Um comentário:
Estou passando por um momento exatamente assim. É engraçado que não tenho palavras e fico parafraseando tudo. A roda é viva.
É o móbile em que estamos suspensos. O vidro nos protege equilibradamente, sem deixar de ver o lado de fora, mas ainda deixando espaço para que vejam que dentro ainda está aberto.
Desejo-lhe ventura e sabedoria...
Abraço
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