07 novembro, 2009

Ladeira

Caro Daniel,

A ira um dia lhe irrigava as palavras, que brotavam em profusão dentro da velha casa. Hoje já não há mais tanta raiva. Talvez tenha sido drenada para algum canto aí de dentro, apêndice pronto a eclodir a qualquer momento. O que circula então pela liquidez dos sentimentos? Não sei – e exatamente essa dúvida deve estar atordoando-o. Só não permita entravar-se diante da interrogação. Ainda é possível acreditar nos seres humanos, a começar por você, que ainda personifica a risada quando está no meio dos populares. Não se deixe mudar na solidão. Converse comigo. Saiba que eu estou sempre aqui para compartilhar com você o peso contumaz de bancar quem você desejou ser. O caminho começou a ser trilhado, meu caro, não tente dar para trás. Caso tenha se cansado, pare um pouco. Parar nem sempre é sinônimo de estacionar, lembre-se disso. Não queira ser sempre a lebre da história, pois nunca se sabe o quanto nosso peito suporta o ritmo ofegante da ladeira. Sim, Daniel, estamos numa eterna subida. O reto não tem mais graça. Por isso, a derrapagem pode ser mais dolorida, mas nem por isso irrecuperável.

Conte com o bom e velho amigo aqui,
Daniel

3 comentários:

Marcelo Mayer disse...

exato, daniel, vc só vais e encontrar quando estiver só. vai poder se conhecer melhor.

Vital disse...

O oposto da verdade não é a mentira, mas a convicção.

belíssima construção.

deh. disse...

ah! que lindo lugar.. e não me parece uma velha casa.
"O coração é casa abandonada na beira da estrada.." - não lembro quem escreveu.

voltarei sempre. bjs