21 novembro, 2007

Roteiro mudo


amiga diz:
to querendo q o ano acabe
eu respondo:
ah...
eu respondo:
mas vai acabar logo
eu respondo:
semana que vem, já é dezembro
amiga diz:
to com uma sensação de q já deu o q tinha q dar
amiga diz:
queria pular logo p próximo. rs
eu respondo:
eita...
eu respondo:
não tinha parado pra pensar assim
amiga diz:
to angustiada já



Eu sou o rei do meu tempo e escrevo o roteiro da vida a quatro mãos: eu e o destino. Nem sempre sou voz preponderante nessa história, reconheço. E acaba que, volta e meia, esse meu parceiro arbitrariamente faz prevalecer o seu ponto final.

A folhinha pregada na copa (como as que a minha avó espalhava pelas paredes da sua casa) está cada vez mais fina. Faltam mais ou menos 30 e poucos dias para, enfim, tentar inscrever um novo marco zero, virar a página do roteiro ou simplesmente dizer “au revoir” pro que passou.

No entanto, há um leve clima de sofreguidão no ar por conta dessa expectativa de “Hoje é um novo dia / Um novo tempo que começou”. É uma espécie de cansaço acumulado, que não me permite mais lampejos de criatividade para bolar um clímax nesse roteiro assinado por mim e pelo destino.

Tudo isso tem sido absolutamente alheio à minha vontade. Para que, então, viradas de cena ou novos personagens, se o suspiro derradeiro tem sido constantemente a deixa para uma nova seqüência do roteiro?

Internas e externas ou novos cenários, isso pode ser até promessas do ano que virá, como apregoam por aí. Mas o que eu quero mesmo é poder alçar carreira solo e passar a assinar a autoria do meu roteiro, assumindo riscos, ousadias, clichês e lugares comuns. Afinal, nas palavras de Clarice, “o futuro é meu enquanto eu viver”.

Sigo, portanto, rumo ao próximo ano na expectativa de um roteiro novo ou, pelo menos, renovado. Até que um dia eu esteja mudo de vez – e aí mais nada sairá para o papel.

***

Acho que está na hora de revisitar Chaplin e alguns outros filmes da época. A experiência de dizer sem nada falar, usando só alguns intertítulos, pode soar promissora. Mas sei que, como bem disse certa vez Lya Luft, às vezes “as palavras são o meu jeito mais secreto de calar”. E, no ano que vem, gostaria de ter mais um pouco a dizer ao mundo.




Um comentário:

Anônimo disse...

Já que são os meios para poder se expressar, por que não abusar das palavras, dos gestos e dos olhares mesmo que possam falhar? Espero, e confesso que um tanto quanto ansioso, para o roteiro e as trilhas sonoras que embalarão o próximo ano! Mesmo que eu saiba que as falas dos personagens sejam sempre ditas de improviso.