05 janeiro, 2008

Saudade


Perguntaram-me certa vez por que eu temia tanto a idade que vai chegando. Como de hábito, eu respondo apoiado nas palavras dos sábios e novamente recorro a Guimarães Rosa: “Toda saudade é uma espécie de velhice”.


A magnitude desse tema está além da minha memória e compreensão. O temor, creio eu, estará na saudade do que assisti ao longo dos anos e também do que não consegui viver nesse tempo todo.


Hoje, ainda com barba preta no rosto e parcos fios de cabelo branco, já me sinto por muitas vezes envelhecido, seja pelas culpas, falhas, faltas ou frustrações garimpadas numa adolescência inquietantemente pacata. Mas, “de repente, não mais que de repente”, chega o amor e dá um sopro de vida nova ao coração asilado pelo silêncio.


São oferecidas flores, mundos e fundos para que se esboce um sorriso espontâneo qualquer. No meio do caminho, abraços e afagos para acalanto. Pede-se ainda para cortar o cabelo porque quer rejuvenescer o rosto, que um dia inventou suas próprias rugas para apresentar uma maturidade forçada (ou talvez forjada, não consegui ao certo identificar).


***


Ano novo, vida nova. Os fogos, em exibição fulgurante no céu, comemoram a chegada da visita à velha casa. Na praia, as estrelas dizem que o amor renova a alma.


Bobagem. Mal sabem que ele estampa o pavilhão da saudade no peito, que anuncia em alto e bom som: sai de cena a paz interior para dar lugar a uma inquietação ainda a mim indecifrável.


— Por que não estamos juntos agora?
— Seria tão bom compartilhar a paisagem.
— Ali um bom lugar para sentarmos juntos.


São frases que ainda reverberaram em eco nesta primeira semana de 2008.


"Se eu te troquei não foi por maldade
Amor, veja bem
Arranjei alguém
Chamado saudade"

["Veja bem, meu bem", na voz de Maria Rita]

3 comentários:

Anônimo disse...

"Saudade palavra doce,
Retrata-nos tanto amargor
Saudade é como se fosse espinho cheirando a flor
É uma palavra breve,
Mas tão longa de sentir...

...A palavra é bem pequena
Mas diz tanto de uma vez
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português."

Saudade - Vicente Celestino

Ela disse...

Eu sinto , tanta saudade..
Gostei muito da tua casa!

J.Machado disse...

Grande Daniel!
Como vão as coisas?
Seu texto me fez relembrar e reler o meu primeiro texto postado no "palavras derivadas".
Inspirei-me num banco ao sol, lembrei-me de tudo que tenho saudade. É sempre.
Eu sinto muita, mas muita saudade de tanta coisa!
Pra variar, belas palavras.
Abração!