12 fevereiro, 2008

Movimento

Foto da :: velha casa ::
Sony Ericsson K550i




Caro amor,

Tem dias que você navega em meu peito como naqueles balaios feitos no fim de ano, uma espécie de pequeno barco em forma de presente, que reverencia os deuses do mar como forma de agradecer por toda sorte de bênçãos a nós oferecidas desde o primeiro encontro.

Nesta pequena embarcação, navega também a expectativa por dias melhores para você, prezado amor, e para mim também. Confesso que durmo e acordo ao seu lado com a nuca rija por conta da tensão que se escamoteia na fumaça do seu cigarro, mesmo ao som de palavras confortantes, como “Não se preocupe, está tudo bem comigo”.

Temo apenas que esse sentimento nobre que mostramos ao mundo na forma do mais glorioso estandarte, fique refém do ramerrame cotidiano, como num marasmo de águas rasas. Para muitos, isso poderia significar sinal de calmaria e, quem sabe, bonança. Mas, para mim, é a tensão potencializada por simplesmente não evoluir.

Não descemos a areia, não ficamos à deriva, tampouco seguimos pelos mares nunca antes por nós navegados. Simplesmente estacionamos no tempo e no espaço, apenas confortado pelo embalo manso das águas que ainda nos benzem.

Por favor, saiba que não quero nunca ser injusto com esta sua situação. Sei que o outro lado dessa história também pede, mais do que nunca, uma mudança urgente no rumo dos ventos. Mas é que eu preciso de movimento. Eu preciso do amor em movimento.



“Coração mistura amores. Tudo cabe”.
[Guimarães Rosa]







Um comentário:

J.Machado disse...

Daniel...
não deixe o barco parar nunca. Não deixe que o parem também. É duro ficar a deriva, no meio do nada, a espera de um vento que nunca chega.
Se o barco parar, pule dele já. Nade, nade, alguém há de te resgatar. Nem que seja no último suspiro.
Mas nunca pare!
Abração!