No carro, os vidros escuros do insulfilm me protegem da curiosidade extrema que toma meu olhar. Lá dentro, parado no sinal, ouço as músicas escolhidas observando ao redor cenas de um cotidiano deliciosamente clandestino. Trata-se de um instante surrupiado de quem está à minha volta e que, ufa, sequer desconfia quem está por trás do meu aquário indiscreto.
Eu rio do que vejo e acho graça. Muita, confesso. Não por se tratar de uma situação divertida, jocosa ou digna do meu riso. Mas é por eu ter ali a plena consciência de que é possível, por um momento, apropriar-se do outro ao meu lado sem ser percebido. E eu reconheço, senhores: para mim, é sublime.
Isso porque o menino que habita minha alma, por vezes, precisa pegar seu banquinho, se escorar na janela até a altura dos olhos para ver o azul do mundo que está ao seu redor. Amparado no parapeito da sua janela, o menino festeja o ramerrame habitual das ruas e das pessoas que nelas circulam. Contemplado, ele ganha depois um soprinho qualquer do vento, que também bate à sua porta com o nome de vida.
O menino, então, sorri faceiramente, mesmo quando se dá conta de que o vidro de sua janela ainda mantém-se escurecido e blindado perante o mundo. E que as buzinas alheias insistem em avisá-lo: o sinal acabou de abrir. É hora de seguir viagem.
Eu rio do que vejo e acho graça. Muita, confesso. Não por se tratar de uma situação divertida, jocosa ou digna do meu riso. Mas é por eu ter ali a plena consciência de que é possível, por um momento, apropriar-se do outro ao meu lado sem ser percebido. E eu reconheço, senhores: para mim, é sublime.
Isso porque o menino que habita minha alma, por vezes, precisa pegar seu banquinho, se escorar na janela até a altura dos olhos para ver o azul do mundo que está ao seu redor. Amparado no parapeito da sua janela, o menino festeja o ramerrame habitual das ruas e das pessoas que nelas circulam. Contemplado, ele ganha depois um soprinho qualquer do vento, que também bate à sua porta com o nome de vida.
O menino, então, sorri faceiramente, mesmo quando se dá conta de que o vidro de sua janela ainda mantém-se escurecido e blindado perante o mundo. E que as buzinas alheias insistem em avisá-lo: o sinal acabou de abrir. É hora de seguir viagem.
[Veja aqui um outro texto da velha casa sobre janela]
11 comentários:
Seu texto me lembrou aquela propaganda do passarinho: "Longe de casa, a mais de uma semana..."
Beijo
Tocante o texto. Preciso mesmo enxergar a vida através das vidraças escuras que me rodeiam. Obrigado. Beijos
Às vezes basta uma parada no sinal para eu também me perder (ou seria me encontrar?) em meus pensamentos distantes.
Encantador este texto!!!
um beijo, menino da janela
Muito singelo e lindo o seu texto. O tempo atual, não suporta olhares demorados. Há sempre muita pressa. Mas é tão bom olhar o mundo, especialmente quando o olhar que vem é o da criança que ainda esta na alma de cada um.
Achei tão bonito... Me deu a sensação de um voyerismo inocente. Eu sempre gostei de observar as pessoas e imaginar o que elas pensavam, sentiam... Mais ou menos o que eu senti que esse seu menino fazia. É interessante, de dentro de um mundo cercado por segurança, observar o caos das ruas. Mas é interessante também, de vez em quando, abrir a janela e participar da realidade que envolve e engole.
Beijos.
Observar sem ser observada é algo que faço constantemente; e não que queira, mas simplesmente me flagro imaginando as sensações que uma criança, por exemplo, deve sentir quando está se lambuzando com seu sorvete preferido no banco da praça.
Beijo, moço.
E fico qui, lendo, contemplando o que de bonito há no seu texto e que desperta a minha criança, que pede mais tempo para olhar com o olhar de quem gosta de pessoas.
Um abraço
Jacinta
É sempre bom alguém lembrar pra que nunca esqueçamos o menino que ainda nos habita.
E no seu comentário... está lá "Marquês de Sapucaí x Anhembi"... Você passou despercebido, rapaz!
Ah, esse brilho nos olhos, esse frescor bacana de enxergar as coisas e descobrir nelas algo de novo são coisas que faço questão de preservar em mim, ainda que eu não seja mais o pentelho d'antes. E acho isso absolutamente possível! Abraço!
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