02 maio, 2008

Boiada



Venha, sente aqui ao meu lado. Pegue esse cigarrinho de palha aqui e vamos prosear um bocado. Não se acanhe, não tem perigo. Um só não vai te fazer mal. Mas fale baixinho, isso. Não está ouvindo? É o som do silêncio. Isso mesmo, preste só atenção. Quem nos está fazendo companhia é o vento. E as estrelas lá de cima. Uma, duas, três, nossa, acho que as Três Marias também. Olha elas lá nos alumiando.

Bonito, não? Também achei. Mas, sabe, acho que amanhã eu vou lá no pasto. Faz tempo que não passo lá pra ver os bois. Eram tantos que nem sei dizer quem é quem. E a dona sabe de cor o nome de cada um. Minha Nossa, tenho memória pra isso, não. Já basta o tanto de gente que se conhece por aí, o tanto de histórias que a gente tem que ouvir e as que também carrega com a vida, né não?

E ainda tem quem nomeia a própria boiada... Engraçado isso. Mas outro dia eu me dei conta lá em casa, já apijamado, prestes a dormir: a gente precisava mesmo dar nome a esses bois que passam pela gente, sabia? Eu iria me sentir uma pessoa mais tranqüila. Ia até poder dizer “Prazer” para o mundo com um tanto mais de sinceridade.

O que você me diz?

10 comentários:

Tudo ou nada ... disse...

Esta sua fase caipira esta ótima. Bons texto, lindas fotos, tá inspirado hein!!
Abraços

FlaM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fragmentos Betty Martins disse...

querido_______daniel







.o




que eu digo_________é








que está aqui um excelente texto




nada_____________mais sensato______como se costuma dizer_______




.nada.como.dar.o.nome.aos.bois_________...









beijO_____C____carinhO

leila saads disse...

Tô precisando dar nome aos bois dessa minha vida, nesse mundo grande sem portêra uai!
hahaha

Gostei muito do texto, leve e bonito!

Beijoss:**

BABI SOLER disse...

eu digo que concordo com você...

Camilinha disse...

Fantástico!!!
A questão dos signifcados e significantes é muito legal! Damos nomes, apelidos, tudo como mostra de afeição... e por que?

Porque precisamos. Porque sem referenciais, sem "concretudes" somos baratas-tontas... será que é isso?
sei lá... mas adorei seu texto!!!

beijos daqui...

Marco Antonio Araujo disse...

Fantástico, Daniel. Acho que você está passando por ótima fase. Excelentes textos.

Anônimo disse...

Eu te digo: prazer, meu amigo Daniel!

Beijos.

Bárbara M.P. disse...

Por vir adorando visitar essa casa linkei-a no Cartas, tudo bem Daniel?
Teus textos me prendem a atenção até a última frase. Será um prazer tê-los comigo por lá.

Uma ótima semana,
Bárbara

Renato Ziggy disse...

Daniel, engraçado que quando comecei a ler seu texto me lembrei do meu pai, em como ele sempre frizou pra mim, quando pequeno, do quão a natureza é bela e que, por isso, eu deveria me atentar com bons olhos a ela. Se transponho esse ensinamento para os bois, as pessoas, ou sei lá o que for, percebo que as coisas deixam de simplesmente de passar por nós e, quando reconhecemos o significado das mesmas e, por isso, atribuímos um nome a cada uma, os conceitos se tornam não mais concretos, mas mais claros. Fica menos difícil apreender a vida e aceitar certos fatos (ou pessoas), muitas vezes discordando, mas sem se revoltar. Dar nome aos bois é sinal de amadurecimento. O "muito prazer", então, nem se fala... Gostei do texto! Abraço!