24 setembro, 2008

Ponte para o céu



Havia cansado de esperar. A menina brincava dentro da casa, ansiosa pela promessa de novas cores um dia a ser cumprida. Seu branco já estava desbotando nas paredes, embora a experiência de vida já não lhe dera muita variação de tons nos últimos anos. Para ela, tudo seguira num mesmo nuance até o dia em que lhe juraram apresentar o arco-íris. Mais do que a porta para as novas cores do mundo, esta seria a ponte que levaria a menina àquele céu tão cantado em suas orações de joelhos por uma vida fora da casa. Eram dias e dias a fio, apoiada no parapeito da janela esperando o enlace entre a chuva e o sol. Queria testemunhar o espetáculo nas nuvens para, finalmente, a guria poder se arrumar com sua mais bela roupa e receber aquela visita. Mas nada aconteceu. O tempo seguia em seu ciclo numa estabilidade rara de encontrar por aí. E o arco-íris tão esperado só aparecia quando ela cismava em fitar o sol para, de uma vertigem ilusória, lhe surgir cores novas. Mas, desta vez, não havia mais ponte. Tudo estava solto no ar.



4 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Bonito texto e o arco-íris tão singelo e ao mesmo tempo sublime, poucos olham para o céu e admiram tal beleza.Parabéns pelo texto.

Um abraço!!

nina disse...

Arco-íris é sutil. É brilho sutil do céu.
Engraçado, essa combinação de cores nunca teve um importante significado em minha vida, mas todo ano presencio pelo menos um arco-íris. Como se fosse um pacto.
Mas não, é só coisa da minha cabeça.

Clarice disse...

Acho tão bom chegar na sua casa e encontrar tantas palavras boas, e dessa vez ainda encontrei um arco-iris e novas cores soltas no ar. Vertigem, Daniel!

Mimi disse...

uma pitada de leveza não faz mal a pensamento algum!