15 março, 2009

Fio de contas [ou Tentativa de poema]






Ela sempre exibiu com orgulho o colar de missangas que mesmo construira.
Foram semanas a fio, escolhendo pedrinha por pedrinha.
O fio, aproveitou o que a mãe lhe dera.
"Minha filha, talvez esse fique bom", havia dito.
"Será que vai arrebentar", perguntara a moça.

***


Por muito tempo o cordão durou
Era no pescoço da moça
Que ele balançava
De acordo com seu ritmo
Cada vez que ela andava forte
As pedrinhas, muidinhas que só
Ecoavam no peito da menina
Batiam mais que o coração
Já estava descompassado
Com a moça esbaforida
Querendo a todo custo
Ser feliz ao lado de seu amor

***

O fio não aguentou a força dos embalos.
Era muita pedraria nele pendurada
Tudo muito carregado para a moça,
Que, pobrezinha,
Andava curvada diante do peso
Era o amor
Ou a imagem dele
A quem prestava obediência
Para alcançar o simples da vida: 
Ser feliz

***

Agora ela cata as pedrinhas no chão
Uma a uma, com certa paciência
O intuito é nobre: 
Reconstruir seu adorno mais caro 
Já o fio, preferiu guardar na bolsa
Quer ver se consegue tecer outro nó
Na hora em que preparar sua nova conta
Desta vez, mais firme
Para aguentar o ritmo
E as batidas
Do que pela frente está por vir
[A moça é bastante otimista]


4 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Ola!! Se toda tentativa for assim, pode continuar tentando.

Um abraço!!

Anônimo disse...

E no ato de 'catar' as pedrinhas do chão, a moça otimista há de ver como são lindas, brilhantes, preciosas, e que valerá a pena reconstruir o colar pedrinha por pedrinha, dando um nó mais forte, para que, ao caminhar, ou correr, ou até dançar, o colar possa manter-se firme no pescoço, sem nunca mais desmanchar.

Tens razão, muitas vezes queremos que alguém nos quebre o silêncio, mas com a voz, não com o olhar perdido e os gestos por fazer. Existem momentos em que ficaremos felizes se o nosso silêncio for quebrado na voz do outro que assim há de nos mostrar que nos escutou...

Que nunca te falte uma água fresquinha, amigo querido, retirada de uma fonte onde só os poetas conseguem estender a mão... assim como tu fazes.

Gosto de estar aqui!

Fica um ramalhete de violetas azuis, um beijo no coração, e o desejo de um domingo de alegrias e Paz.

Anônimo disse...

Oi Daniel...
Ler o que vc escreve é para mim um grande prazer.
Vem aquela sensação de ainda existirem pessoas capazes de sentir... E sentir não é pra todo mundo não.
Um abraço!

Rapha Homem disse...

Você é aquilo que escreve.