16 novembro, 2009

Ao irmão que eu não tive

Queria muito poder contemplar sua existência hoje. Fecho os olhos e não consigo lembrar nossa despedida. Era garoto ainda, você ainda mais novo. Seria bom tê-lo conosco hoje. De verdade. Aqui em casa, as coisas vão caminhando. Papai vem tentando se reinventar, sem muito sucesso, e a mãe está ligeiramente cansada. Já tentei carregar os dois no meu colo, mas não dá. São arredios demais – talvez tenha puxado isso deles. Será que você seria arredio também? Só sei da cor dos seus olhos, azuis, como os meus e os da mamãe. Sei do seu nome, Pedro, e do sobrenome. Seu quarto continua conosco, hoje ocupado pelas roupas e algumas traquitanas de nossa mãe. Eles não falam de você, mas não se sinta desmerecido por isso. O amor ainda existe – entre eles e para comigo. Hoje eu o represento aqui. Mas isso não significa que não lamento por sua ausência entre nós. Queria tê-lo por perto para compartilhar a família. É muito sentimento e responsabilidade para lidar sozinho. Sua companhia me faria muito bem, mesmo pensando nas possíveis brigas (acredite: muitos me têm como uma pessoa de difícil gênio, mas as pessoas aumentam muito o que falam. Eu prefiro acreditar que a gente se daria muito bem). Qual faculdade você escolheria? Que segredos teríamos um com o outro? Onde eu o buscaria à noite (sim, o carro é meu e eu não empresto, ponto final)? Em que eu mais poderia ajudá-lo? Hoje sou jornalista, posso dizer que sei um pouco de alguns assuntos. Sim, e tenho uma cama de casal para deitar ao seu lado e ver um filme. E um videogame com dois controles para brincarmos. Não ria: eu guardei esperando que você um dia voltasse. Ainda aguardo. Pena eu não conseguir encontrá-lo nos sonhos. Seria bom conhecer e reconhecer você. Mande notícias, por favor. O espaço para comentários aqui está sempre aberto.

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