14 dezembro, 2007

Abram as cortinas


:: Prólogo ::

Não quero ter a terrível limitação

De quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: q
uero é uma verdade inventada.
[Clarice Lispector]




Três. Dois. Um.
Luzes se apagam. Segundos de silêncio
Hora de começar o espetáculo
As cortinas são abertas. Vermelhas, de veludo carmesim
Que correm para seus cantos em perfeita sincronia

No palco, está o protagonista do espetáculo
Somente uma pessoa em cena
Um monólogo de dramas ínfimos do cotidiano
Diálogos abundantes sobre emoções e angústias
Lembranças de pequenezas, bagatelas e reveses do passado

Eis que o observador se atenta na coxia
Escondido na sua penumbra
Aos detalhes mais comezinhos dos gestos no palco
Sublinhado pelo spot de luz

No cenário, o corpo que fala por si
E, escondida no canto, atrás da cortina
Está a consciência vestida de autoridade
É a projeção de uma atenção sempre esperada
Do aplauso sempre aguardado no final da festa
E das flores em consagração por mais uma noite

Rostos desconhecidos ocupam a platéia
Público variado que julga aquilo que foi dito no palco
De pé, eles se entreolham, sem compreender de todo
As reais intenções dessa vida descortinada
Que volta e meia pede para entrar em cartaz



FICHA TÉCNICA

Autor do espetáculo: A vida
Duração do espetáculo: Essa mesma vida
Nome do espetáculo: "Velha casa"
Direção: Ao léu e ao sabor dos acontecimentos
Elenco: Ainda em constante definição
Local: Em casa, no trabalho, no bar, no quarto ou à sombra da noite
Apresentações: Espetáculo itinerante, sem hora para começar

[Até que se encontre no roteiro
Uma vírgula ou um ponto parágrafo qualquer
Para preparar uma reestréia]


3 comentários:

Ana Kessler disse...

Daniiiiii! Aninha Kessler speaking. Entrei no teu orkut pra te dar um beijo e ele me trouxe até aqui. Conexões internáuticas que despertam conexões passadas ao vivo. Que grata surpresa. AMEI, guri, o teu blog. Vou visitar sempre. Saudades tuas, querido. Beijo enorme! Você está um maestro das palavras, heim? Beijoooooo

Anônimo disse...

Moço, seu texto me lembrou Caio F. que sempre dizia que o medo da estréia muitas vezes interrompe o fluxo da vida nos ensaios. Te abraço,

Guiu

FlaM disse...

klap klap klap

cheguei tarde nessa estréia... mas haverá alguém entusiasmado nessa platéia!

bj, querido Lindo texto!