O avesso do espelho se despedaça em miúdos toda noite, resplandecendo no escuro do meu quarto um céu de cacos que se apresentam como estrelas de um firmamento ainda sem a solidez necessária para ser contemplado pelos mais estudiosos do assunto. São os fragmentos de uma imagem quebradiça diante do amor e sua torrente de sensações impetuosas, que se precipitam num ar pouco rarefeito por esses dias de bastante hesitação.
As horas passam e a noite ainda permanece como cenário incólume no breu daquele cômodo. As paredes azuis ganham mais espessura e volume, enquanto o corpo tenta com o tato encontrar seu chão, contornando o vazio que há no lado direito da cama, agora sem mais a nobreza da sua presença.
O olhar ronda falsas esperanças e se perde ao fitar o teto, naquele instante o limite físico e único dos meus sonhos. Lá em cima está o desenho do meu imaginário, que vê no movimento constante dos astros de vidro a formação de um desejo latente: os meus lábios em sincronia com os seus, confundindo nossas fronteiras em nome de um querer mútuo.
Cacos, astros, nossos lábios sem espaço: só assim eu vislumbro no horizonte o sol da meia-noite, para ver se consigo alumiar um pouco essas madrugadas em claro, de mente em divagante confusão.
4 comentários:
Exelente texto, gostei mesmo!!! Parabéns!!
UM ABRAÇO!!
MAURO ROCHA
Kra,
O interessante foi que ao ler o seu texto, eu tive uma sensaçao de digressào interior...estranho, lembrei de tanta coisa...
em tempo, vou te linkar!
Abç.
http://biblinotas.blogspot.com
que belo texto, a tempos não via palavras tão bem colocadas para expressar um sentimento nobre, nobre sim, a falta de algo, a solidão, nosso vazio interior.
beijos
Saudade dói. Eu sei.
O pior é entender que não haverá mais aquele corpo a nos aquecer.
Abraços.
Postar um comentário