19 junho, 2008

Astrolábio



O avesso do espelho se despedaça em miúdos toda noite, resplandecendo no escuro do meu quarto um céu de cacos que se apresentam como estrelas de um firmamento ainda sem a solidez necessária para ser contemplado pelos mais estudiosos do assunto. São os fragmentos de uma imagem quebradiça diante do amor e sua torrente de sensações impetuosas, que se precipitam num ar pouco rarefeito por esses dias de bastante hesitação.

As horas passam e a noite ainda permanece como cenário incólume no breu daquele cômodo. As paredes azuis ganham mais espessura e volume, enquanto o corpo tenta com o tato encontrar seu chão, contornando o vazio que há no lado direito da cama, agora sem mais a nobreza da sua presença.

O olhar ronda falsas esperanças e se perde ao fitar o teto, naquele instante o limite físico e único dos meus sonhos. Lá em cima está o desenho do meu imaginário, que vê no movimento constante dos astros de vidro a formação de um desejo latente: os meus lábios em sincronia com os seus, confundindo nossas fronteiras em nome de um querer mútuo.

Cacos, astros, nossos lábios sem espaço: só assim eu vislumbro no horizonte o sol da meia-noite, para ver se consigo alumiar um pouco essas madrugadas em claro, de mente em divagante confusão.

4 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Exelente texto, gostei mesmo!!! Parabéns!!


UM ABRAÇO!!

MAURO ROCHA

Luifel disse...

Kra,

O interessante foi que ao ler o seu texto, eu tive uma sensaçao de digressào interior...estranho, lembrei de tanta coisa...

em tempo, vou te linkar!

Abç.

http://biblinotas.blogspot.com

Ludmila Prado disse...

que belo texto, a tempos não via palavras tão bem colocadas para expressar um sentimento nobre, nobre sim, a falta de algo, a solidão, nosso vazio interior.
beijos

Auréola Branca disse...

Saudade dói. Eu sei.
O pior é entender que não haverá mais aquele corpo a nos aquecer.

Abraços.