Nunca tive a pretensão de ser bombeiro, nem no recôndito da infância, quando ser herói era sinônimo de honra e poder. Gostava era mesmo dos estratagemas montados diariamente, eu e meus bonecos inseparáveis, dos mais variados tamanhos, acessórios e vestimentas. Era com essas armas que eu inocentemente vestia naquela época.
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Lembro-me da sensação de queimado por uma ou duas vezes. Engraçado, porque o que me vem à memória não é a recordação da dor ou as imagens da vermelhidão que marcou a pele. A lembrança mais forte é a do tempo que a mão encostou no forno até o primeiro “Ai”, segundos depois. Esse intervalo, em que a dor ia delimitando passo a passo seu território, é o que mais me marcou com o passar dos anos.
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Já disse uma vez: não sou sempre esses fogos de artifício que muitos acham que espocam no céu. De qualquer forma, acho válido estar disposto a ajudar e dar a devida porção de amigo. Mas aqui eu confesso: detesto ter sempre que apagar o incêndio alheio, que não me pertence nem me diz respeito, mas que a mim surge de forma avassaladora, abafando na boca meu “não” diante da magnitude da chama. Preciso novamente me vestir das armas, sejam elas de Jorge, como canta a música, ou as dos meus bonequinhos de criança. Ou que seja ao menos um pano molhado, para ver se ameniza o calor dessas recentes e fortes emoções.
[Texto feito às pressas, em forma de desabafo, sem muito pensar]